Nossa comunicação com pessoas que estavam distantes, na minha adolescência, era através de cartas enviadas pelos Correios. Telefonemas interurbanos eram muito caros e raros. Tive que comprar um bloco de folhas muito finas porque minhas cartas tinham, em média, 15, 20 folhas (tamanho carta, pouco menor que A4) e não cabiam nos envelopes se fossem escritas em papel usual. Ainda tenho muitas que recebia de primos, amigos, namorados, família, todas guardadas. Quando o carteiro chegava, depois de uns cinco dias da correspondência postada, era uma felicidade imensa abrir aqueles envelopes e encontrar fatos, fotos, acontecimentos, sentimentos, até em papel perfumado e decorado. Minha prima de Brasília me mandava cartas em papel com cheiro de morango, pêssego, tutti-frutti. Era uma delícia quando eu as abria e aquele cheirinho gostoso invadia minhas narinas enquanto lia as “notícias do mundo de lá”.
Hoje não abro mais envelopes de cartas. Abro o meu Orkut e lá estão recadinhos-surpresa e depoimentos de amigos e amigas, alguns só virtuais, postados e recebidos a uma velocidade inimaginável naquele tempo, e que só quem viveu lá sabe a diferença de estar aqui. Aí vejo fotos, comentários, e me perco pela madrugada, principalmente no JOÃO MONLEVADE FOTOS ANTIGAS, que faz uma revisão do meu passado, aquele dos Anos Dourados, do romantismo e da Ditadura Militar - outros tempos, outros objetivos, outras convicções, outros sonhos. Nós queríamos somente a LIBERDADE (Art 5º da Constituição Brasileira), até então tolhida pela força das armas, da censura, das torturas. Hoje a liberdade transformou-se em competitividade, natural no atual sistema, onde o ditador é o capital. E nesse percurso, os românticos se perderam. Nossa luta era sincera, objetiva e ferrenha. Hoje percebo que muitos não sabem verdadeiramente o que buscam. Os sonhos dependem do mercado, não das convicções, que se deparam, na maioria das vezes, com portas estreitas, quase fechadas, transponíveis somente para os que acreditam que o sonho pode e deve, mesmo que lentamente, tornar-se real.
Assim, a velocidade das notícias e dos fatos que as geraram, da comunicação em geral, continua em crescimento contínuo, mas os sonhos românticos, para alguns, vão também, velozes, se perdendo e ficando para trás.
Lutécia Mafra Espeschit é pedagoga, formada no IES/FUNCEC , especialista em Orientação Educacional e licenciada em Saúde e Saneamento pela PUC-RS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário