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luteciaesp

sábado, 5 de novembro de 2011

O mato da minha avó

Há 14 anos, quando minha avó morreu, herdei dela todas as suas plantas, que não eram muitas, mas que eu gostava de dar umas mexidinhas nos seis anos em que morei com ela, bem antes da sua morte. Morei com minha avó, em Belo Horizonte, de 1982 a 1988, quando resolvi pedir demissão da CAMIG, onde trabalhei por quase 10 anos e retornar a Monlevade. Embora tenha nascido em Beagá e lá estar toda a minha família, não sentia "minha" aquela cidade. Queria me sentir em casa, mesmo voltando sem emprego e sem saber ao certo o que meus pais pensavam sobre isso. Sabia que queria voltar pra casa, para a minha cidade, de onde só saí para estudar e trabalhar, indo pra onde não encontrei o "meu" lugar.

Minha avó, parteira aposentada do Hospital Vera Cruz e outros, era uma mulher muito rígida, por força da profissão que teve e das dificuldades que na época enfrentava, como falta de estradas e recursos para atender seus pacientes, pacientes dos médicos dos locais onde trabalhava. Conviver com ela muitos não achavam fácil, mas a gente se dava muito bem. Gostávamos de fazer e comer coisas gostosas, de cuidar de plantas, de fazer poesias, cantar e contar histórias. Weber Costa, filho do Diló, era um grande amigo seu e parceiro em muitas músicas. Minha avó fazia as letras e o Weber musicava. Muitas e muitas vezes ela, Weber e eu ficamos cantando, falando bobagens e rindo muito até o dia amanhecer. 

Apesar de ter um ótimo emprego, um bom local para morar e de estar numa cidade onde a minha família é tradicional desde que se tornou capital (os Mafra, no Barro Preto e os Espeschit, no Padre Eustáquio e Carlos Prates), voltei então para a "minha cidade", em março de 1989. Em agosto de 1997, dois meses após perder minha mãe, lá se foi minha avó, bem no Dia do Soldado, 25 de agosto, dia mais perfeito para marcar a sua morte, coincidente com a sua personalidade e sua vida de "disciplina militar". E, da sua morte, além da genética que herdei, também herdei as plantas, que encheram o carro do meu pai. Na saída da casa da minha avó para Monlevade, minha tia veio correndo com uma lata na mão e disse: - "já que você tá levando as plantas todas, leva esse mato também". Era mesmo um "mato", parecido com capim gordura, mas como herança é herança, trouxe aquela lata,  sem imaginar o que poderia ser aquele capim. Cuidei desse capim por uns cinco ou seis anos, troquei a lata por um vaso de cimento e seu aspecto não se modificava. Ficou robusto mas continuava "mato" e eu não tinha coragem de jogar fora.  Um belo dia, meu pai chegou todo todo eufórico, me chamando pra ver o mato. Qual não foi a nossa surpresa ao vermos que, depois daqueles anos todos, no meio daquelas folhas todas, brotou um "tarugo" enorme,  com flores lindas em sua extremidade. Hoje, quando cheguei no quintal, lá está ela de novo, a linda flor do mato da minha avó.


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Você tem fome de quê?

Há alguns meses criei, no site de relacionamento Facebook, um grupo voltado a sugestões e debates, chamado “Idéias para uma Monlevade melhor”, pois são muitos os desafios para que a cidade tenha uma ótima qualidade de vida e  as boas idéias, acredito, são o norte para se encontrar o caminho das grandes realizações. Com todas as demandas que tem uma cidade como as do porte de Monlevade, fiquei surpresa com a unanimidade do desejo dos participantes dos debates do grupo: “mais cultura”. Acredito que esse clamor, na verdade, traduz-se em diversão e entretenimento, que é o que falta em nossa cidade. Cultura tem várias definições e ela pode ser religiosa, esportiva, folclórica, de subsistência, de massa, das tradições, intelectuais, morais, orais e tudo o que se faz presente e uma constância no dia-a-dia de uma comunidade, de um grupo, de um povo, e que o caracteriza, o iguala ou diferencia.

Somos uma cidade de tradição operária, religiosa, de educação de destaque, acolhedora, de muito trabalho, de bons artistas e de política polarizada. Temos bons bares e restaurantes, tradicionais e “sazonais”, alguns raros shows são realizados e muitas festas já se tornam tradição pela freqüência com vem acontecendo. Não somos uma cidade de tradição no ramo do entretenimento. Parece não haver interesse da iniciativa privada em “arriscar” nas produções de grande público. Embora haja projetos, ainda não temos um shopping, um teatro ou uma sala de cinema. Muito menos um parque ou um local onde se possa fazer um agradável passeio gratuitamente. Então, esse clamor é necessário, mas ao mesmo tempo injusto quando cobram essas realizações somente da administração municipal, seja qual seja o grupo político que administre a nossa cidade.

 Os grandes eventos são deixados a cargo do poder público e esse, com todas as suas limitações orçamentárias, não tem deixado a desejar quando o assunto é cultura e entretenimento. Além dos inúmeros cursos que a Fundação Casa de Cultura oferece, fiz um levantamento de todos os apoios e eventos culturais realizados somente nesse ano, contabilizando trinta e seis, uma média de 3,6 eventos por mês. E, curiosamente, a maioria dos meus amigos do Facebook  e outras pessoas que reclamam da falta de “cultura” na cidade , não comparece a nenhum desses eventos,

Estive presente em vários e dentre as realizações culturais “oficiais” de 2011, destaco o Pré Folia, o Aniversário da Cidade, o Festival de Artes Cênicas, o Encontro de Motociclistas, o Circo do Marcos Frota, a Caravana da Artesania, a adesão à Jornada Mineira do Patrimônio Cultural, a abertura do JEMG, o Festiaço, o Brincando na Praça, a Cavalgada (dois dias gratuitos), os investimentos do ICMS Cultural no Congado e Corporações Musicais, lançamento dos livros Portais e a trilogia Jairo, diversas palestras, como a “João Monlevade: caminho de riquezas” e, encerrando no dia 4 de novembro, as inscrições para o concurso fotográfico “Olhares” e o concurso literário “Valores de nossa gente”.  Você já fez uma foto ou escreveu uma crônica ou um poema para os concursos?

Portanto, se os monlevadenses não prestigiam e não comparecem à maioria dos eventos que aqui são realizados e dizem que Monlevade é uma cidade onde a cultura não acontece, resta-me então perguntar a cada um:  - Você tem fome de quê?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Uirapuru


O uirapuru é um pequeno pássaro, quase em extinção que, no Brasil, habita a floresta amazônica. Seu canto melodioso e longo, que se assemelha ao som de uma flauta, é ouvido só por quinze dias no ano, ao anoitecer e ao amanhecer, enquanto constrói o ninho para atrair a fêmea. Envolvido em estórias da floresta, diz uma lenda que, quem o encontra e ouve seu canto, tem um desejo especial realizado. 

Embora não estejamos na Amazônia, nem na floresta, João Monlevade terá, na próxima terça feira, dia 16, o seu canto do Uirapuru. A partir das 18 horas, na Praça do Povo, grandes nomes da música mineira elevarão seu canto, na esperança de que, ao ser ouvido pela Presidente Dilma,  numa gravação que chegará às suas mãos, possamos ter nosso especial desejo realizado: a duplicação da BR-381.

“O show da vida pela duplicação da rodovia da morte” acontecerá como forma de protesto pelo descaso com que a manutenção e a segurança da nossa principal rodovia vêm sendo tratadas. É fruto da articulação do médico e músico Aggeu Marques , que convidou vários artistas para o show e mobilizou inúmeras pessoas para fazerem a sua divulgação pelas redes sociais e outros meios de comunicação.

A idéia inicial de que o evento fosse realizado interditando a rodovia, foi descartada por motivo de segurança. Embora causasse um maior impacto, poderia também causar acidentes,

Longe de tumultuar o trânsito ou provocar qualquer transtorno na BR , o que todos pretendem é se fazerem ouvidos. Assim como o Uirapuru, cujo canto raro comove a todos da floresta, que o canto da nossa cidade comova nossos governantes para que essa duplicação deixe de ser necessidade e passe a ser realidade.

Tomo a liberdade de, em nome do Aggeu Marques, Ana Cristina, Bauxita, Fabrício e Elcimar, Fio da Navalha, In Focus, Luís Carlos Sá, Márcio Greyck, Maurício Gasperini, Paulinho Pedra Azul, Rômulo Rãs, Telo Borges, Toninho Horta e 14 Bis, convidar a todos para estarmos na Praça do Povo no dia 16, unidos nesse protesto pela vida.

Um abraço, uma ótima semana para todos e até terça-feira, na praça.